segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Hidroterapia: Saúde pela Água!

    A utilização da água como um meio de cura data de muitos séculos, embora apenas no fim dos anos de 1890, a reabilitação aquática tenha passado de uma modalidade passiva para uma que envolvia a participação activa do paciente.
Em muitas culturas, o uso da água mantinha uma ligação estreita com a sua adoração mística e religiosa, e ao seu percebido poder de cura.
Por volta de 500 a.C., a civilização grega já não relacionava a água com misticismo e começou a usá-la mais logicamente para tratamentos físicos específicos, através de estações de banho e fontes.
    Os registos históricos demonstram que, ao longo do tempo, o valor da utilização da água num programa de tratamento, aumentou, e é Johann S. Hahn (1696-1773) quem ficou conhecido como o pai da hidroterapia moderna, tendo dedicado grande parte da sua prática medicinal ao estudo e aplicação desta terapêutica nos seus próprios pacientes.

    Os numerosos princípios físicos (temperatura, pressão hidrostática, flutuação, turbulência, densidade e viscosidade) que governam o comportamento da água são complexos e têm influência no processo terapêutico, sendo o meio aquático facilitador da autonomia e da participação activa do paciente, proporcionando uma enorme variabilidade de experiências motoras e sensoriais, e oferecendo oportunidades estimulantes para os movimentos que não estão incluídos nos programas tradicionais de exercícios em solo.
    A atenuação da gravidade facilita o movimento e transmite uma sensação de liberdade, promovendo a auto-confiança e aumentando o potencial funcional do paciente.

   A Hidroterapia ou Reabilitação Aquática é indicada em numerosas áreas: pediatria, obstetrícia, reumatologia, disfunções músculo-esqueléticas, patologias neurológicas, patologias cardiovasculares, reabilitação desportiva.
   Nos seus efeitos podemos referenciar: manutenção ou aumento das amplitudes articulares (maior liberdade de movimento); facilitação dos movimentos; reeducação, fortalecimento, ou relaxamento muscular; estimulação sensorial; vasodilatação secundária; aumento da circulação periférica, pela pressão hidrostática e temperatura da água; diminuição da dor, possibilitando a realização de exercícios que em terra seriam dolorosos; aumento da capacidade respiratória; estimulação do sistema circulatório, imunitário e digestivo; efeito psicológico, melhorando a autoconfiança do paciente.

   Em Reabilitação Aquática é possível referenciar o Método dos Anéis de Bad Ragaz, e o Método Halliwick.
   O primeiro é um conjunto de técnicas terapêuticas efectuadas na água, que foram desenvolvidas através dos anos nas águas termais de Bad Ragaz, na Suíça. Ainda em evolução, o método é usado internacionalmente para reeducação muscular, fortalecimento, tracção/alongamento vertebral, relaxamento, incorporando técnicas de movimentos com padrões em planos anatómicos e diagonais, com resistência e estabilização fornecidos pelo terapeuta. O paciente é mantido na posição de deitado, suportado por flutuadores em forma de anel, em torno do pescoço, e região pélvica e ao nível dos joelhos e tornozelos.
   O método Halliwick foi desenvolvido por McMillan em 1949, em Londres, e a sua ênfase inicial era de natureza recreativa e com o objectivo de independência individual na água. Trata-se de um método que enfatiza as habilidades dos pacientes na água, e não as limitações em terra.
   Os pacientes são tratados numa relação de um instrutor para cada paciente até que a independência completa seja alcançada. Através de jogos próprios para cada idade e habilidade, são orientados sobre as propriedades da água e como controlar o seu equilíbrio.
   O manuseio correcto do paciente pelo instrutor permite que estes experimentem uma mobilidade desconhecida em solo. Após os primeiros estágios de ajuste mental e quando os princípios básicos de equilíbrio são aprendidos, os pacientes atingem um estágio de desprendimento em relação ao instrutor experimentando assim uma independência completa de movimento.
   Não são usados flutuadores, e os pacientes são ensinados a manter uma posição de respiração segura, bem como a chegar a uma posição segura se necessário, e a controlar a expiração quando a face estiver submersa.
O método é dividido em 10 estágios, também conhecido como programa de 10 pontos.

   Existem ainda técnicas e actividades corporais aquáticas que podem também ser utilizadas em terapia e reabilitação. O Watsu e o Ai-Chi são bons exemplos.
   O Watsu ou Water-Shiatsu, foi criado como técnica de bem-estar, que entretanto acabou por se mostrar útil em reabilitação. Os movimentos são combinados com pressões em pontos de acupunctura oriental e massagem, enquanto se flutua numa água com a temperatura de 35 graus. O Watsu utiliza a leveza do corpo na água para libertar a coluna vertebral, mobilizando articulações, e alongamentos musculares suaves de modo alternativo aos utilizados em terra. Estes movimentos rítmicos, similares a uma dança, são executados em harmonia com a respiração com o intuito de despertar uma regeneração do corpo e mente.
   O Ai Chi é uma combinação de Tai-Chi, Shiatsu e Watsu, e um excelente complemento ás actividades de equilíbrio de Halliwick. É uma actividade corporal aquática cujo conceito é desbloquear a energia que permanece presa em nosso centro cardíaco através de movimentos suaves na água. Em geral é feita em grupo, com música relaxante, juntamente com o controlo da respiração, o equilíbrio e a mobilidade articular que são conseguidos mediante o alongamento de alguns meridianos.

Seja qual for o método ou a técnica, entrar na água é uma experiência única que possibilita a oportunidade de ampliar física, mental e psicologicamente os conhecimentos e habilidades dos pacientes, e ainda permite desenvolver a socialização e a recreação.

...A água favorece um retorno às sensações da vida uterina e da pequena infância, a criança pode rever aí a passagem da dependência à autonomia pela descoberta de um mundo exterior a ela...
...  O contacto do corpo com a água facilita a construção, reconstrução do indivíduo que age sobre um meio deformável e transformável...
 (Michel Piednoir)

Diana Silva
Joana Viterbo
(Fisioterapeutas)

(Publicado no Jornal A Voz de Ermesinde, Edição de 15.11.10.)

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